segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

António Oliveira de Salazar

Político português, filho de António Oliveira e Maria do Resgate, António de Oliveira Salazar nasceu a 28 de Abril de 1889, no Vimieiro, uma pequena aldeia de Santa Comba Dão. De família de pequenos proprietários agrícolas, as primeiras letras aprendeu-as em lições particulares, pois não existia escola na pequena aldeia onde nasceu, e, como muitos jovens da sua idade e condição social, fez a formação académica em ambiente fortemente marcado pelo Catolicismo, tendo frequentado durante oito anos, o Seminário Diocesano de Viseu.

 

 Já em plena Ditadura Militar, Salazar foi nomeado para Ministro das Finanças, cargo que exerceu apenas por quatro dias, devido a não lhe terem sido delegados todos os poderes que exigia. Quando Óscar Carmona chegou a Presidente da República, Salazar regressou à pasta das Finanças, com todas as condições exigidas (supervisionar as despesas de todos os Ministérios do governo).

Apesar da severidade do regime que impôs, publicou em 14 de Maio de 1928 a Reforma Orçamental, contribuindo para que o ano económico de 1928-1929 registasse um saldo positivo, o que lhe granjeou prestígio.

O sucesso obtido na pasta das Finanças tornou-o, em 1932, chefe de governo. Em 1933, com a aprovação da nova Constituição, formou-se o Estado Novo, um regime autoritário semelhante ao fascismo de Benito Mussolini.
 
As graves perturbações verificadas nos anos 20 e 30 nos países da Europa Ocidental levaram Salazar a adoptar severas medidas repressivas contra os que ousavam discordar da orientação do Estado Novo.

Ao nível das relações internacionais, conseguiu assegurar a neutralidade de Portugal na Guerra Civil de Espanha e na II Guerra Mundial.

O declínio do império salazarista acelerou-se a partir de 1961, a par do surto de emigração e de um crescimento capitalista de díficil controlo. É afastado do governo em 1968 por motivo de doença, sendo substituído por Marcello Caetano. Acabaria por falecer em Lisboa, a 27 de Julho de 1970.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Estrutura externa e Interna de Felizmente Há Luar!

A peça tem dois actos que não estão divididos em cenas.
Os actos são iniciados pelas falas de Manuel, “o mais consciente dos populares”.
1º acto: Gomes Freire de Andrade encontra-se na sua casa “para os lados do Rato donde não há qualquer referência que tenha saído”.
O 1º núcleo de personagens do povo – de que fazem parte Manuel, Rita, Antigo Soldado e vários outros populares sem nome – vêem no General o seu herói, o único homem que será capaz de os libertar da opressão, da miséria e do terror em que vivem.
É neste quadro que se insere a frase reticente de Manuel «se ele quisesse…» (pág. 21) o que significa que depositam nele expectativas e esperanças no sentido de ser ele quem poderá libertá-los da tirania da regência e da exploração dos ingleses de que são alvo.
O 2º núcleo de personagens do povo – constituído por Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento e os dois polícias – vão contribuir, através da denúncia, da traição e da força das armas, para a prisão de Gomes Freire de Andrade e para a sua ulterior execução.
Em suma:
Freire de Andrade é o herói para: * Manuel
* Rita
* Antigo Soldado
* Outros populares
Freire de Andrade é objecto de denúncia por: * Vicente
* Morais Sarmento
* Andrade Corvo
Neste primeiro acto é feita a apresentação da situação, mostrando-se o modo maquiavélico como o poder funciona, não olhando a meios para conseguir os seus objectivos.
Vicente: Tenta denegrir junto do povo a imagem do General (pág. 24) – o que revela que despreza o povo ao mesmo tempo que desrespeita o General.
Denuncia o General como presumível chefe da conjura.
Vigia a casa do General, o que cumpre de forma eficiente (pág. 60 – 61).
2º acto:
O 2º acto conduz o espectador ao campo do antipoder e da resistência.
A acção centra-se na deambulação de Matilde cujo estatuto social lhe permite ter acesso às figuras do poder.
Matilde considera-se uma vítima inconformada de uma injustiça.
Matilde:
l Suplica a Beresford que liberte o marido;
l Intimida o povo à acção no sentido de lutar contra a opressão e pela libertação do marido;
l Exige ao povo que se solidarize com ela;
l Dirige-se a D. Miguel e sente o ultraje deste, primo do marido;
l Dirige-se ao Principal Sousa a quem acusa de hipócrita e prepotente;
l Sente o reconforto e a compreensão do frade que acabara de confessar o General preso em S. Julião da Barra;
l Chega à serra de Santo António acompanhada de Sousa Falcão onde a fogueira queima o corpo de Gomes Freire de Andrade.

Teatro Épico

O teatro épico é produto do forte desenvolvimento teatral na Rússia, após a Revolução Russa de 1917, e na Alemanha, durante o período da República de Weimar, tendo como seus principais iniciadores o diretor russo Meyerhold e o diretor teatral alemão Erwin Piscator. Nesse tempo, as cenas épicas alemãs recebiam o nome de cena Piscator, dado o extensivo uso de cartazes e projeções de filmes nas peças dirigidas por Piscator. No entanto, o grande propagandista do teatro épico foi Bertolt Brecht.


Texto Dramatico

O texto dramático é um tipo de texto que é escrito para ser representado. Normalmente não tem narrador e nele predomina o discurso na segunda pessoa (tu/vós). Além deste tipo de discurso, o tecto dramático pressupõe o recurso à linguagem gestual, à sonoplastia e à luminotécnica.

É composto por dois tipos de texto:


- Texto principal, as falas dos actores. É constituído por

Monólogo – uma personagem, falando consigo mesma, expõe perante o público os seus pensamentos e/ou sentimentos;
Diálogo – falas entre duas ou mais personagens;
Apartes – comentários de uma personagem para o público, pressupondo que não são ouvidos pelo seu
interlocutor.
- Texto secundário (ou didascálias, ou indicações cénicas) destina-se ao leitor, ao encenador da peça ou aos actores.
O texto secundário é composto:
- pela listagem inicial das personagens;
- pela indicação do nome das personagens no início de cada fala;
- pelas informações sobre a estrutura externa da peça (divisão em actos, cenas ou quadros);
- pelas indicações sobre o cenário e guarda roupa das personagens;
- pelas indicações sobre a movimentação das personagens em palco, as atitudes que devem tomar, os gestos que devem fazer ou a entoação de voz com que devem proferir as palavras;
 
ESTRUTURA INTERNA E EXTERNA

Estrutura externa – o teatro tradicional e clássico pressupunha divisões em actos, correspondentes à mudança de cenários, e em cenas , equivalentes à mudança de personagens em cena.
O teatro moderno, narrativo ou épico, põe de parte estas regras tradicionais de divisão na estrutura externa.

Estrutura interna – uma peça de teatro divide-se em:
Exposição – apresentação das personagens e dos antecedentes da acção.
Conflito – conjunto de peripécias que fazem a acção progredir.
Desenlace – desfecho da acção dramática.

PERSONAGENS
Classificação quanto à sua concepção:
- Planas ou personagens-tipo – não alteram o seu comportamento ao longo da acção. Representam um grupo social, profissional ou psicológico);
- Modeladas ou Redondas – evoluem ao longo da acção, as suas atitudes e comportamentos vão-se alterando e, por isso mesmo, podem surpreender o espectador.

Classificação quanto ao relevo:
- protagonista ou personagem principal
- personagens secundárias
- figurantes


Tipos de caracterização:
Directa – a partir dos elementos presentes nas didascálias, da descrição de aspectos físicos e psicológicos, das palavras de outras personagens, das palavras da personagem a propósito de si própria.
Indirecta – a partir dos comportamentos, atitudes e gestos que levam o espectador a tirar as suas próprias conclusões sobre as características das personagens.

ESPAÇO
Espaço – o espaço cénico é caracterizado nas didascálias, onde surgem indicações sobre pormenores do cenário, efeitos de luz e som. Coexistem normalmente dois tipos de espaço:
Espaço representado – constituído pelos cenários onde se desenrola a acção e que equivalem ao espaço físico que se pretende recriar em palco;
Espaço aludido – corresponde às referências a outros espaços que não o representado.

TEMPO
Tempo da representação – duração do conflito em palco;
Tempo da acção ou da história – o(s) ano(s) ou a época em que se desenrola o conflito dramático;
Tempo da escrita ou da produção da obra – altura em que o autor concebeu a peça.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Obra de Sttau Monteiro

Sttau Monteiro começa, então, uma carreira como jornalista, colaborando em várias publicações, de que se destaca a sua participação na revista Almanaque, onde também eram redactores Augusto Abelaira, José Cutileiro, Alexandre O’Neil, Vasco Pulido Valente e José Cardoso Pires. Relevante foi ainda o seu desempenho no Diário de Lisboa, matutino onde coordenou o suplemento "A Mosca", nos anos 70 do século XX, com a colaboração de Joaquim Letria, José Cutileiro, Mário Castrim e João Abel Manta, entre outros. Foi de igual modo nesse quotidiano que publicou as suas crónicas gastronómicas intituladas «A Melga no Prato».


Publica a peça de teatro Felizmente Há Luar!, obra que, sob influência do teatro de Brecht, e recuperando acontecimentos anteriores (inícios do séc. XIX) da história portuguesa, procurava fazer uma denúncia da situação sua contemporânea. Por isso, a censura proibiu a sua representação.
No entanto, essa proibição não impediu que fossem vendidos 160 mil exemplares da peça, o que resultou num êxito editorial estrondoso.
 
Mais um texto dramático sai a público: Auto da Barca do Motor fora da Borda - uma paráfrase moderna do teatro vicentino. Foi proibido pela censura.
Nesse mesmo ano é editada a novela E se for Rapariga Chama-se Custódia.
 
Entretanto, a primeira exibição de Felizmente Há Luar!, em antestreia, aconteceu na sede do Club Franco-Portuguais de la Jeunesse de Paris, no dia 1 de Março de 1969, e a estreia, no dia 30 desse mesmo mês, no Théatre de l’ Ouest Parisien, levada à cena pelo Teatro-Oficina Português.
 
 

Vida de Sttau Monteiro

Luís Infante de Lacerda de Sttau Monteiro nasce em Lisboa, filho de Lúcia Rebelo Cancela Infante de Lacerda (1903-1980) e Armindo Rodrigues de Sttau Monteiro (1896 – 1955), e procura construir a sua vida tendo como «única coisa sagrada ser livre como o vento».
 

Com 10 anos de idade, parte para Londres, acompanhando o pai, Armindo Monteiro, que vai exercer as funções de embaixador de Portugal. O tempo que passou na capital inglesa possibilitou-lhe acompanhar de perto, e num palco privilegiado, o desenrolar da II Guerra Mundial, bem como um contacto mais próximo com alguns movimentos de vanguarda da literatura anglo-saxónica, contacto esse que irá influenciar significativamente a sua formação cívica e literária.
 
Regressa a Portugal, quando o pai é demitido do cargo por Salazar.

 
Realiza os seus estudos liceais num colégio particular e, mais tarde, no Liceu Pedro Nunes.
Apesar de gostar de Matemática, acaba por optar por uma licenciatura em Direito, na Universidade de Lisboa, exercendo, depois, durante dois anos, a advocacia.
 

Módulo Nº11

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

MENSAGEM de Fernando Pessoa; Terceira Parte- O ENCOBERTO

NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.
 Ninguém sabe que coisa quere,
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ância distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
 É a Hora!
 
Análise:
Neste poema, o último de Mensagem, Fernando Pessoa transmite uma imagem desencantada da realidade do Portugal dos seus dias... mas para concluir que essa situação é, afinal, o nevoeiro de que falam as profecias e que marcará o regresso de D.Sebastião. A conclusão de que o nevoeiro que se esperava não é, afinal, literal (físico) mas antes simbólico (social e político) permite-lhe acabar o Poema com uma "volta" final ao gritar: "É a Hora!".
"fogo-fátuo"- chama azulada, em geral breve, resultante da combustão espontânea de uma mistura de metano e ar em determinadas proporções. O metano (gás dos pântanos) é produzido naturalmente pela decomposição da matéria orgânica, vegetal ou animal. A combustão produz calor, mas como é muito breve a chama pode parecer fria.

O ENCOBERTO
 
Que symbolo fecundo
Vem na aurora anciosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.
Que symbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa, que é o Christo.
Que symbolo final
Mostra o sol já disperto?
Na Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.
 
Análise: Este curioso poema é uma sucessão de referências cruzadas à mística rosicruciana. Os Rosa-Cruz foram (são?) uma sociedade secreta cujas origens provavelmente remontam ao século XVII. Os interessados poderão ler um texto sobre os Rosa-Cruz. Parece que originalmente seria um grupo secreto de homens cultos e superiormente desinteressados que sonhavam controlar os destinos da humanidade de maneira a assegurar o advento de um mundo pacífico e feliz (na prática, uma variante da noção do Quinto Império). As diversas cisões e criação de sociedades sob o mesmo nome obliteraram as pistas quanto à permanência real de uma sociedade secreta que represente a presença actual de uma herança multisecular ininterrupta.
Existem várias interpretações da simbologia da Rosa e da Cruz. Uma, que convém a este poema, é de que a Rosa é uma representação do círculo e está associada a ideais de perfeição que são metas, enquanto que a Cruz representa, por exemplo, as atribulações que há a ultrapassar ou vencer para as atingir.


MENSAGEM de Fernando Pessoa; Segunda Parte- MAR PORTUGUEZ

O INFANTE
 
Deus quere, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quiz que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
 
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou creou-te portuguez.
Do mar e nós em ti nos deu signal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
 
Análise:"Foste desvendando a espuma e a orla branca foi de ilha em continente..."- a espuma das ondas que acabam nas praias ou rebentam contra os rochedos marca as costas com uma orla branca. A frase anterior é uma forma poética de dizer que as costas foram sendo descobertas, primeiro as ilhas e depois os continentes, "até ao fim do mundo".
"Quem te sagrou criou-te português"- porque, segundo Fernando Pessoa, Deus fadou Portugal para um magno destino e o Infante foi, por assim dizer, parte do "puzzle".
"Do mar e nós, em ti nos deu sinal"- através de ti revelou-nos que o nosso destino era o Mar.
"Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez...falta cumprir-se Portugal"- cumpriu-se o destinado: o Mar foi desvendado; o Império Português (isto é, o controle das rotas oceânicas e a hegemonia no Índico) desfez-se. Pessoa pensa que Portugal está destinado à grandeza futura, e isso ainda não se cumpriu!
 

O MOSTRENGO
O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou trez vezes,
Voou trez vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-rei D. João Segundo!»
  «De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou trez vezes,
Trez vezes rodou immundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
 o homem do leme tremeu, e disse:
«El-rei D. João Segundo!»

Trez vezes do leme as mãos ergueu,
Trez vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer trez vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quere o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
D' El-rei D. João Segundo!»
 
Análise:Este é um dos poemas mais conhecidos de Mensagem. Aquando das suas duas primeiras publicações chamava-se "O Morcego" e referia "o morcego que está no fim do mar..." mas o ser simbólico foi dignificado pela transformação em mostrengo na revisão anterior à edição de Mensagem em livro.
O poema simboliza, claro está, o medo do desconhecido (o "mostrengo") que os navegadores portugueses tiveram que vencer. A causa próxima dessa coragem é, segundo Fernando Pessoa, as ordens do rei D.João II. Existe uma razão para isso: quando Gil Eanes voltou de uma tentativa falhada de dobrar o Cabo Bojador, o Infante mandou-o voltar para tentar novamente e o navegador venceu o temor para não desagradar ao seu bondoso patrono. Mas com D.João II o trato era diferente porque ele era o tipo de homem que não admitia que aqueles em quem confiara falhassem- os comandantes preferiam enfrentar todos os dragões do mar à fúria do seu senhor e por isso o poema encerra também uma ironia- a natureza da "vontade" que ata o homem do leme à rota é que o temor do seu rei é maior do que o terror do mar ignoto!


terça-feira, 30 de outubro de 2012

MENSAGEM de Fernando Pessoa; 1ª Parte-BRAZÃO

D.DUARTE REI DE PORTUGAL
 
Meu dever fez-me, como Deus ao mundo.
A regra de ser Rei almou meu ser,
em dia e letra escrupuloso e fundo.


Firme em minha tristeza, tal vivi.
Cumpri contra o Destino o meu dever.
Inutilmente? Não, porque o cumpri.
 
Análise:"A regra de ser Rei almou meu ser"- A disciplina de ser rei encheu a minha vida (isto é, como D.Duarte viveu o fim do seu curto reinado no remorso das consequências da falhada expedição a Tânger e da prisão do irmão Fernando não tinha prazer na vida, dedicando-se inteiramente ao dever da governação). Esse remorso é a razão da frase do poema: "firme em minha tristeza".
 
D.PEDRO REGENTE DE PORTUGAL
 
Claro em pensar, e claro no sentir,
é claro no querer;
indiferente ao que há em conseguir
que seja só obter;
duplice dono, sem me dividir,
de dever e de ser-

não me podia a Sorte dar guarida
por não ser eu dos seus.
Assim vivi, assim morri, a vida,
calmo sob mudos céus,
fiel à palavra dada e à ideia tida.
Tudo o mais é com Deus!
 
Análise:indiferente ao que há em conseguir que seja só obter"- não fui movido pelo desejo de posse; não fui ambicioso de bens materiais.
"Dúplice dono, sem me dividir, de dever e de ser"- eu e o meu dever fomos um só.
 
D.JOÃO INFANTE DE PORTUGAL
 
Não fui alguém. Minha alma estava estreita
entre tam grandes almas minhas pares,
inutilmente eleita,
virgemmente parada;
 
porque é do portuguez, pae de amplos mares,
querer, poder só isto:
o inteiro mar, ou a orla vã desfeita-
o todo, ou o seu nada.
 
Análise: "Minha alma estava estreita entre tão grandes almas...etc"- os meus irmãos (o Infante D.Henrique, o Rei D.Duarte, o Infante D.Pedro, e o Infante D.Fernando) tiveram tal grandeza que me ofuscaram completamente. "virginalmente parada"- sem actividade; virgem de acção (esta afirmação é inexacta em relação ao Infante D.João que foi um homem de mérito e de préstimo para o País. Aliás, qualquer comparação com um homem de estatura mundial como o Infante D.Henrique só pode resultar injusta para o comparado!).
"é do português querer só isto: o inteiro mar ou a orla vã desfeita"- para um português não há meios termos: ou tudo ou nada (por isso, como não fui tudo, então eu não fui nada!).
"a orla vã desfeita"- a cercadura do mar; a espuma das ondas que se desfazem futilmente na costa.


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Reflexões do Poeta em Os Lusíadas

Luís de Camões, n´Os Lusíadas, não consegue calar a voz crítica da sua consciência nem a sua emoção. Então, interrompendo o tom épico, como os bons clássicos de Roma e Grécia, umas vezes, a sua palavra ganha uma feição didáctica, moral e severamente crítica; outras vezes, expressa o lamento e o queixume de quem sente amargamente a ingratidão, ou os desconcertos do mundo.
 
Eis alguns dos temas tratados nas passagens mais subjectivas d’Os Lusíadas, que irrompem quase sempre nos finais dos diversos cantos :
 
Canto I (105-106) - Os perigos que espreitam o ser humano (o herói), tão pequeno diante das forças poderosas da natureza (tempestades, o mar, o vento...), do poder da guerra e dos traiçoeiros enganos dos inimigos.

 
Canto V (92-100) - O poeta lastima o desdém a que os Portugueses votam as letras. Aqueles, apesar de serem de terra de heróis, não reconhecem o valor da arte.

O Velho do Restelo n'os Lusíadas

Quando as naus de Vasco da Gama se despediam do porto de Belém, um ancião, o Velho do Restelo, elevando a voz, manifestou sua oposição à viagem às Índias. A sua fala pode ser interpretada como a sobrevivência da mentalidade feudal, agrária, oposta ao expansionismo e às navegações, que configuravam os interesses da burguesia e da monarquia. É a expressão rigorosa do conservadorismo. Certo é que Camões, mesmo numa epopéia que se propõe a exaltar as Grandes Navegações, dá a palavra aos que se opõem ao projeto expansionista. Portanto, O Velho do Restelo representa a oposição passado x presente, antigo x novo. O Velho chama de vaidoso aqueles que, por cobiça ou ânsia de glória, por sua audácia ou coragem, se lançam às aventuras ultramarinas. Simboliza a preocupação daqueles que antevêem um futuro sombrio para a Pátria.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

D. Manuel I (O Sonho)


O sonho prenuncia os êxitos, a fama, o poder e a glória de que se cobrirá o Rei por ter conseguido descobrir o Oriente.

O sonho é um símbolo do que pode o espírito humano quando procura pôr em prática as suas aspirações. É símbolo da capacidade de conquista, de vontade de ir sempre mais além, de desbravar o desconhecido. E símbolo da política expansionista portuguesa na época.
 
 

D. Manuel I


 
D. Manuel logo que assume o poder pretende dar continuidade aos desejos do seu antecessor, na conquista de novos mares e de novas terras. Uma noite sonha com «vários mundos», «nações de muita gente, estranha e fera» (IV, 69) e vê «dous homens, que mui /velhos pareciam / de aspeito, inda que agreste, venerando» (IV, 71). Estes apresentam-se como sendo os rios Ganges e Indo, que afirmam a D. Manuel que é tempo de mandar «a receber de nós tributos grandes» (IV, 73).

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Mitificação Do Herói

Os Lusíadas celebram os Portugueses enquanto nação, colectividade. Para isso, o poeta desenvolve uma história de Portugal como epopeia, seleccionando os episódios e as figuras, de modo a fazer avultar o lado heróico e exemplar da História, cantando-a. Por outro lado, o poema tende à universalidade, louva não só os Portugueses mas o homem em geral: a sua capacidade realizadora, descobridora. A empresa das descobertas é a grande prova dessas capacidades: a de se impor à natureza adversa, de desvendar o desconhecido, de ultrapassar os limites traçados pela cultura antiga e pelo conceito tradicional do homem e do mundo, que estavam dogmatizados e eram difíceis de superar. Os Lusíadas celebram a capacidade de alargar e aprofundar o saber; a realização do homem no que respeita ao amor e, por fim, talvez o mais importante, o poder de edificar a vida face ao destino. De não ser vítima da fatalidade. De se libertar e de ser sujeito do seu próprio destino. Por isso, um dos temas épicos consiste na comparação sistemática com os modelos antigos, com o apogeu na divinização dos heróis.


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Estrutura Externa de Os Lusiadas

A obra divide-se em dez partes, às quais se chama cantos. Cada canto tem um número variável de estrofes (em média de 110). O canto mais longo é o X, com 156 estrofes.

As estrofes são oitavas, portanto constituídas por oito versos. Cada verso é constituído por dez sílabas métricas; nas sua maioria, os versos são heróicos (acentuados nas sextas e décimas sílabas).

O esquema rimático é o mesmo em todas as estrofes da obra, sendo portanto, rima cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos (AB-AB-AB-CC).



Canto I, est. 6-18, é o oferecimento do poema a D. Sebastião, que encara toda a esperança do poeta, que quer ver nele um monarca poderoso, capaz de retomar “a dilatação da fé e do império” e de ultrapassar a crise do momento.

Termina com uma exortação ao rei para que também se torne digno de ser cantado, prosseguindo as lutas contra os Mouros.



marca
Exórdio (est. 6-8) - início do discurso;

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Exposição (est. 9-11) - corpo do discurso;

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Confirmação (est. 12-14) - onde são apresentados os exemplos;

marca
Peroração (est. 15-17) - espécie de recapitulação ou remate;

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Epílogo (est. 18) - conclusão.



Canto I, est. 4-5, o poeta pede ajuda a entidades mitológicas, chamadas musas. Isso acontece várias vezes ao longo do poema, sempre que o autor precisa de inspiração:


marca

Tágides ou ninfas do Tejo (Canto I, est. 4-5);

marca

Calíope - musa da eloquência e da poesia épica (Canto II, est. 1-2);

marca

Ninfas do Tejo e do Mondego (Canto VII, est. 78-87);

marca

Calíope (Canto X, est. 8-9);

marca

Calíope (Canto X, est. 145).

Os Lusíadas ( Estrutura Interna )


Canto I, est. 1-3, em que Camões proclama ir cantar as grandes vitórias e os homens ilustres - “as armas e os barões assinalados”; as conquistas e navegações no Oriente (reinados de D. Manuel e de D. João III); as vitórias em África e na Ásia desde D. João a D. Manuel, que dilataram “a fé e o império”; e, por último, todos aqueles que pelas suas obras valorosas “se vão da lei da morte libertando”, todos aqueles que mereceram e merecem a “imortalidade” na memória dos homens.

A proposição aponta também para os “ingredientes” que constituíram os quatro planos do poema:


marca

Plano da Viagem - celebração de uma viagem:



"...da Ocidental praia lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram além da Tapobrana...";

marca

Plano da História - vai contar-se a história de um povo:



"...o peito ilustre lusitano..."."...as memórias gloriosas / Daqueles Reis que foram dilatando / A Fé, o império e as terras viciosas / De África e de Ásia...";

marca

Plano dos Deuses (ou do Maravilhoso) - ao qual os Portugueses se equiparam:



"... esforçados / Mais do que prometia a força humana..."."A quem Neptuno e Marte obedeceram...";

marca

Plano do Poeta - em que a voz do poeta se ergue, na primeira pessoa:



"...Cantando espalharei por toda a parte. / Se a tanto me ajudar o engenho e arte..."."...Que eu canto o peito ilustre lusitano...".


Humanismo

O Humanismo é uma das escolas que compõem a Era Medieval, seguida do Trovadorismo. Seu marco inicial foi a nomeação de Fernão Lopes para o posto de Guarda Mor da Torre do Tombo, no século XV, ano de 1418 para ser exato. Já outros acham que o marco inicial mais conveniente foi a nomeação de Fernão Lopes como Cronista Mor do Reino, isso no ano de 1434.

Classicismo

Em Arte, o Classicismo refere-se, geralmente à valorização da Antiguidade Clássica como padrão por excelência do sentido estético, que os classicistas pretendem imitar. As duas grandes manifestações classicistas da Idade Moderna européia são o Renascimento, Humanismo e o Neoclassicismo.
Serve também o termo clássico para designar uma obra ou um autor depositários dos elementos fundadores de determinada corrente artística. A arte renascentista, por conta de seu contexto histórico, será impulsionada por grande explosão de vida e confiança no ser humano. Por isso, as manifestações artisticas desse periodo são marcadas pela visão antropocentrica, que evidenciará a beleza do corpo humano na pintura e na escultura.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Biografia de Luís Vaz de Camões


 

Vídeo sobre Renascimento


Renascimento


Renascimento, Renascença ou Renascentismo são os termos usados para identificar o período da História da Europa aproximadamente entre fins do século XIII e meados do século XVII.
Chamou-se "Renascimento" em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da antiguidade clássica, que nortearam as mudanças deste período em direcção a um ideal humanista e naturalista.