Político português, filho de António Oliveira e Maria do Resgate, António de Oliveira Salazar nasceu a 28 de Abril de 1889, no Vimieiro, uma pequena aldeia de Santa Comba Dão. De família de pequenos proprietários agrícolas, as primeiras letras aprendeu-as em lições particulares, pois não existia escola na pequena aldeia onde nasceu, e, como muitos jovens da sua idade e condição social, fez a formação académica em ambiente fortemente marcado pelo Catolicismo, tendo frequentado durante oito anos, o Seminário Diocesano de Viseu.
Já em plena Ditadura Militar, Salazar foi nomeado para Ministro das
Finanças, cargo que exerceu apenas por quatro dias, devido a não lhe terem sido
delegados todos os poderes que exigia. Quando Óscar Carmona chegou a Presidente da
República, Salazar regressou à pasta das Finanças, com todas as condições exigidas
(supervisionar as despesas de todos os Ministérios do governo).
Apesar da severidade do regime que impôs, publicou em 14 de Maio de
1928 a Reforma Orçamental, contribuindo para que o ano económico de 1928-1929 registasse
um saldo positivo, o que lhe granjeou prestígio.
O sucesso obtido na pasta das Finanças tornou-o, em 1932, chefe de
governo. Em 1933, com a aprovação da nova Constituição, formou-se o Estado Novo, um regime autoritário semelhante ao fascismo de Benito Mussolini.
As graves perturbações verificadas nos anos 20 e 30 nos países da
Europa Ocidental levaram Salazar a adoptar severas medidas repressivas contra os que
ousavam discordar da orientação do Estado Novo.
Ao nível das relações internacionais, conseguiu assegurar a
neutralidade de Portugal na Guerra Civil de Espanha e na II Guerra Mundial.
O declínio do império salazarista acelerou-se a partir de 1961, a par
do surto de emigração e de um crescimento capitalista de díficil controlo. É afastado
do governo em 1968 por motivo de doença, sendo substituído por Marcello Caetano.
Acabaria por falecer em Lisboa, a 27 de Julho de 1970.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Estrutura externa e Interna de Felizmente Há Luar!
A peça tem dois actos que não estão divididos em cenas.
Os actos são iniciados pelas falas de Manuel, “o mais consciente dos populares”.
1º acto: Gomes Freire de Andrade encontra-se na sua casa “para os lados do Rato donde não há qualquer referência que tenha saído”.
O 1º núcleo de personagens do povo – de que fazem parte Manuel, Rita, Antigo Soldado e vários outros populares sem nome – vêem no General o seu herói, o único homem que será capaz de os libertar da opressão, da miséria e do terror em que vivem.
É neste quadro que se insere a frase reticente de Manuel «se ele quisesse…» (pág. 21) o que significa que depositam nele expectativas e esperanças no sentido de ser ele quem poderá libertá-los da tirania da regência e da exploração dos ingleses de que são alvo.
O 2º núcleo de personagens do povo – constituído por Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento e os dois polícias – vão contribuir, através da denúncia, da traição e da força das armas, para a prisão de Gomes Freire de Andrade e para a sua ulterior execução.
Em suma:
Freire de Andrade é o herói para: * Manuel
* Rita
* Antigo Soldado
* Outros populares
Freire de Andrade é objecto de denúncia por: * Vicente
Neste primeiro acto é feita a apresentação da situação, mostrando-se o modo maquiavélico como o poder funciona, não olhando a meios para conseguir os seus objectivos.
Vicente: Tenta denegrir junto do povo a imagem do General (pág. 24) – o que revela que despreza o povo ao mesmo tempo que desrespeita o General.
Denuncia o General como presumível chefe da conjura.
Vigia a casa do General, o que cumpre de forma eficiente (pág. 60 – 61).
2º acto:
O 2º acto conduz o espectador ao campo do antipoder e da resistência.
A acção centra-se na deambulação de Matilde cujo estatuto social lhe permite ter acesso às figuras do poder.
Matilde considera-se uma vítima inconformada de uma injustiça.
Matilde:
l Suplica a Beresford que liberte o marido;
l Intimida o povo à acção no sentido de lutar contra a opressão e pela libertação do marido;
l Exige ao povo que se solidarize com ela;
l Dirige-se a D. Miguel e sente o ultraje deste, primo do marido;
l Dirige-se ao Principal Sousa a quem acusa de hipócrita e prepotente;
l Sente o reconforto e a compreensão do frade que acabara de confessar o General preso em S. Julião da Barra;
l Chega à serra de Santo António acompanhada de Sousa Falcão onde a fogueira queima o corpo de Gomes Freire de Andrade.
Teatro Épico
O teatro épico é produto do forte desenvolvimento teatral na Rússia, após a Revolução Russa de 1917, e na Alemanha, durante o período da República de Weimar, tendo como seus principais iniciadores o diretor russo Meyerhold e o diretor teatral alemão Erwin Piscator. Nesse tempo, as cenas épicas alemãs recebiam o nome de cena Piscator, dado o extensivo uso de cartazes e projeções de filmes nas peças dirigidas por Piscator. No entanto, o grande propagandista do teatro épico foi Bertolt Brecht.
Texto Dramatico
O texto dramático é um tipo
de texto que é escrito para ser representado. Normalmente não tem narrador e
nele predomina o discurso na segunda pessoa (tu/vós). Além deste tipo de
discurso, o tecto dramático pressupõe o recurso à linguagem gestual, à
sonoplastia e à luminotécnica.
É composto por dois tipos de
texto:
- Texto
principal, as falas dos actores. É
constituído por
• Monólogo – uma personagem, falando consigo
mesma, expõe perante o público os seus pensamentos e/ou sentimentos;
• Diálogo – falas entre duas ou mais personagens;
• Apartes – comentários de uma personagem para o público, pressupondo que não são ouvidos pelo seu interlocutor.
• Diálogo – falas entre duas ou mais personagens;
• Apartes – comentários de uma personagem para o público, pressupondo que não são ouvidos pelo seu interlocutor.
- Texto secundário
(ou didascálias, ou indicações cénicas) destina-se ao leitor, ao encenador da
peça ou aos actores.
O texto secundário é composto:
- pela listagem inicial das
personagens;
- pela indicação do nome das personagens no início de
cada fala;
- pelas informações sobre a estrutura externa da peça
(divisão em actos, cenas ou quadros);
- pelas indicações sobre o cenário e guarda roupa das
personagens;
- pelas indicações sobre a movimentação das personagens
em palco, as atitudes que devem tomar, os gestos que devem fazer ou a entoação
de voz com que devem proferir as palavras;
ESTRUTURA INTERNA E
EXTERNA
Estrutura externa – o teatro tradicional e
clássico pressupunha divisões em actos,
correspondentes à mudança de cenários, e em cenas , equivalentes à mudança de personagens
em cena.
O teatro moderno, narrativo
ou épico, põe de parte estas regras tradicionais de divisão na estrutura
externa.
Estrutura interna – uma peça de teatro
divide-se em:
• Exposição – apresentação das personagens e dos
antecedentes da acção.
• Conflito – conjunto de peripécias que fazem a
acção progredir.
• Desenlace – desfecho da acção
dramática.
PERSONAGENS
Classificação quanto à sua
concepção:
- Planas ou personagens-tipo – não alteram o seu
comportamento ao longo da acção. Representam um grupo social, profissional ou
psicológico);
- Modeladas ou Redondas – evoluem ao longo da acção, as suas
atitudes e comportamentos vão-se alterando e, por isso mesmo, podem surpreender
o espectador.
Classificação quanto ao
relevo:
- protagonista ou personagem principal
- personagens secundárias
- figurantes
- personagens secundárias
- figurantes
Tipos de
caracterização:
• Directa – a partir dos elementos presentes nas
didascálias, da descrição de aspectos físicos e psicológicos, das palavras de
outras personagens, das palavras da personagem a propósito de si
própria.
• Indirecta – a partir dos comportamentos,
atitudes e gestos que levam o espectador a tirar as suas próprias conclusões
sobre as características das personagens.
ESPAÇO
Espaço – o espaço cénico é
caracterizado nas didascálias, onde surgem indicações sobre pormenores do
cenário, efeitos de luz e som. Coexistem normalmente dois tipos de
espaço:
• Espaço representado – constituído pelos cenários onde
se desenrola a acção e que equivalem ao espaço físico que se pretende recriar em
palco;
• Espaço aludido – corresponde às referências a outros
espaços que não o representado.
TEMPO
• Tempo da representação –
duração do conflito em palco;
• Tempo da acção ou da história – o(s) ano(s) ou a
época em que se desenrola o conflito dramático;
• Tempo da escrita ou da produção da obra – altura em
que o autor concebeu a peça.
terça-feira, 20 de novembro de 2012
Obra de Sttau Monteiro
Sttau Monteiro começa, então, uma carreira
como jornalista, colaborando em várias publicações, de que se destaca a sua
participação na revista Almanaque, onde também eram redactores Augusto
Abelaira, José Cutileiro, Alexandre O’Neil, Vasco Pulido Valente e José Cardoso
Pires. Relevante foi ainda o seu desempenho no Diário de Lisboa, matutino
onde coordenou o suplemento "A Mosca", nos anos 70 do século XX, com a
colaboração de Joaquim Letria, José Cutileiro, Mário Castrim e João Abel Manta,
entre outros. Foi de igual modo nesse quotidiano que publicou as suas crónicas
gastronómicas intituladas «A Melga no Prato».
Publica a peça de teatro Felizmente Há
Luar!, obra que, sob influência do teatro de Brecht, e recuperando
acontecimentos anteriores (inícios do séc. XIX) da história portuguesa,
procurava fazer uma denúncia da situação sua contemporânea. Por isso, a censura
proibiu a sua representação.
No entanto, essa proibição não impediu que
fossem vendidos 160 mil exemplares da peça, o que resultou num êxito editorial
estrondoso.
Mais um texto dramático sai a público:
Auto da Barca do Motor fora da Borda - uma paráfrase moderna do teatro
vicentino. Foi proibido pela censura.
Nesse mesmo ano é editada a novela E se
for Rapariga Chama-se Custódia.
Entretanto, a primeira exibição de
Felizmente Há Luar!, em antestreia, aconteceu na sede do Club
Franco-Portuguais de la Jeunesse de Paris, no dia 1 de Março de 1969, e a
estreia, no dia 30 desse mesmo mês, no Théatre de l’ Ouest Parisien, levada à
cena pelo Teatro-Oficina Português.
Vida de Sttau Monteiro
Luís Infante de Lacerda de Sttau Monteiro
nasce em Lisboa, filho de Lúcia Rebelo Cancela Infante de Lacerda (1903-1980)
e Armindo Rodrigues de Sttau Monteiro (1896 – 1955), e procura construir a sua
vida tendo como «única coisa sagrada ser livre como o
vento».
Com 10 anos de idade, parte para Londres,
acompanhando o pai, Armindo Monteiro, que vai exercer as funções de embaixador
de Portugal. O tempo que passou na capital inglesa possibilitou-lhe acompanhar
de perto, e num palco privilegiado, o desenrolar da II Guerra Mundial, bem como
um contacto mais próximo com alguns movimentos de vanguarda da literatura
anglo-saxónica, contacto esse que irá influenciar significativamente a sua
formação cívica e literária.
Realiza os seus estudos liceais num colégio
particular e, mais tarde, no Liceu Pedro Nunes.
Apesar de gostar de Matemática, acaba por
optar por uma licenciatura em Direito, na Universidade de Lisboa, exercendo,
depois, durante dois anos, a advocacia.segunda-feira, 12 de novembro de 2012
MENSAGEM de Fernando Pessoa; Terceira Parte- O ENCOBERTO
NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem
paz nem guerra,
define com perfil e
ser
este fulgor baço da
terra
que é Portugal a
entristecer –
brilho sem luz e sem
arder,
como o que o
fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa
quere,
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ância distante
perto chora?)
Tudo é incerto e
derradeiro.
Tudo é disperso, nada
é inteiro.
Ó Portugal, hoje és
nevoeiro...
É a
Hora!
Análise:
Neste poema, o último de
Mensagem, Fernando Pessoa transmite uma imagem desencantada da realidade do
Portugal dos seus dias... mas para concluir que essa situação é, afinal, o
nevoeiro de que falam as profecias e que marcará o regresso de D.Sebastião. A
conclusão de que o nevoeiro que se esperava não é, afinal, literal (físico) mas
antes simbólico (social e político) permite-lhe acabar o Poema com uma "volta"
final ao gritar: "É a Hora!".
O ENCOBERTO
Que symbolo
fecundo
Vem na aurora
anciosa?
Na Cruz Morta do
Mundo
A Vida, que é a
Rosa.
Que symbolo
divino
Traz o dia já
visto?
Na Cruz, que é o
Destino,
A Rosa, que é o
Christo.
Que symbolo
final
Mostra o sol já
disperto?
Na Cruz morta e
fatal
A Rosa do Encoberto.
Análise:
Este curioso poema é uma
sucessão de referências cruzadas à mística rosicruciana. Os Rosa-Cruz foram
(são?) uma sociedade secreta cujas origens provavelmente remontam ao século
XVII. Os interessados poderão ler um texto sobre os Rosa-Cruz. Parece que
originalmente seria um grupo secreto de homens cultos e superiormente
desinteressados que sonhavam controlar os destinos da humanidade de maneira a
assegurar o advento de um mundo pacífico e feliz (na prática, uma variante da
noção do Quinto Império). As diversas cisões e criação de sociedades sob o mesmo
nome obliteraram as pistas quanto à permanência real de uma sociedade secreta
que represente a presença actual de uma herança multisecular
ininterrupta.
Existem várias interpretações da simbologia da Rosa e da Cruz. Uma, que convém a este poema, é de que a Rosa é uma representação do círculo e está associada a ideais de perfeição que são metas, enquanto que a Cruz representa, por exemplo, as atribulações que há a ultrapassar ou vencer para as atingir.
Existem várias interpretações da simbologia da Rosa e da Cruz. Uma, que convém a este poema, é de que a Rosa é uma representação do círculo e está associada a ideais de perfeição que são metas, enquanto que a Cruz representa, por exemplo, as atribulações que há a ultrapassar ou vencer para as atingir.
MENSAGEM de Fernando Pessoa; Segunda Parte- MAR PORTUGUEZ
O INFANTE
Deus quere, o homem
sonha, a obra nasce.
Deus quiz que a terra
fosse toda uma,
Que o mar unisse, já
não separasse.
Sagrou-te, e foste
desvendando a espuma,
E a orla branca foi de
ilha em continente,
Clareou, correndo, até
ao fim do mundo,
E viu-se a terra
inteira, de repente,
Surgir, redonda, do
azul profundo.
Quem te sagrou
creou-te portuguez.
Do mar e nós em ti nos
deu signal.
Cumpriu-se o Mar, e o
Império se desfez.
Senhor, falta
cumprir-se Portugal!
Análise:"Foste desvendando a espuma
e a orla branca foi de ilha em continente..."- a espuma das ondas que acabam nas
praias ou rebentam contra os rochedos marca as costas com uma orla branca. A
frase anterior é uma forma poética de dizer que as costas foram sendo
descobertas, primeiro as ilhas e depois os continentes, "até ao fim do
mundo".
"Quem te sagrou criou-te português"- porque, segundo Fernando Pessoa, Deus fadou Portugal para um magno destino e o Infante foi, por assim dizer, parte do "puzzle".
"Do mar e nós, em ti nos deu sinal"- através de ti revelou-nos que o nosso destino era o Mar.
"Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez...falta cumprir-se Portugal"- cumpriu-se o destinado: o Mar foi desvendado; o Império Português (isto é, o controle das rotas oceânicas e a hegemonia no Índico) desfez-se. Pessoa pensa que Portugal está destinado à grandeza futura, e isso ainda não se cumpriu!
"Quem te sagrou criou-te português"- porque, segundo Fernando Pessoa, Deus fadou Portugal para um magno destino e o Infante foi, por assim dizer, parte do "puzzle".
"Do mar e nós, em ti nos deu sinal"- através de ti revelou-nos que o nosso destino era o Mar.
"Cumpriu-se o Mar e o Império se desfez...falta cumprir-se Portugal"- cumpriu-se o destinado: o Mar foi desvendado; o Império Português (isto é, o controle das rotas oceânicas e a hegemonia no Índico) desfez-se. Pessoa pensa que Portugal está destinado à grandeza futura, e isso ainda não se cumpriu!
O MOSTRENGO
O mostrengo que está
no fim do mar
Na noite de breu
ergueu-se a voar;
À roda da nau voou
trez vezes,
Voou trez vezes a
chiar,
E disse: «Quem é que
ousou entrar
Nas minhas cavernas
que não desvendo,
Meus tectos negros do
fim do mundo?»
E o homem do leme
disse, tremendo:
«El-rei D. João
Segundo!»
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou trez vezes,
Trez vezes rodou immundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do
mar sem fundo?»
o homem do leme
tremeu, e disse:
«El-rei D. João
Segundo!»
Trez vezes do leme as
mãos ergueu,
Trez vezes ao leme as
reprendeu,
E disse no fim de
tremer trez vezes:
«Aqui ao leme sou mais
do que eu:
Sou um povo que quere
o mar que é teu;
E mais que o
mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do
fim do mundo,
Manda a vontade, que
me ata ao leme,
D' El-rei D. João
Segundo!»
Análise:Este é um dos poemas mais
conhecidos de Mensagem. Aquando das suas duas primeiras publicações chamava-se
"O Morcego" e referia "o morcego que está no fim do mar..." mas o ser simbólico
foi dignificado pela transformação em mostrengo na revisão anterior à edição de
Mensagem em livro.
O poema simboliza, claro está, o medo do desconhecido (o "mostrengo") que os navegadores portugueses tiveram que vencer. A causa próxima dessa coragem é, segundo Fernando Pessoa, as ordens do rei D.João II. Existe uma razão para isso: quando Gil Eanes voltou de uma tentativa falhada de dobrar o Cabo Bojador, o Infante mandou-o voltar para tentar novamente e o navegador venceu o temor para não desagradar ao seu bondoso patrono. Mas com D.João II o trato era diferente porque ele era o tipo de homem que não admitia que aqueles em quem confiara falhassem- os comandantes preferiam enfrentar todos os dragões do mar à fúria do seu senhor e por isso o poema encerra também uma ironia- a natureza da "vontade" que ata o homem do leme à rota é que o temor do seu rei é maior do que o terror do mar ignoto!
O poema simboliza, claro está, o medo do desconhecido (o "mostrengo") que os navegadores portugueses tiveram que vencer. A causa próxima dessa coragem é, segundo Fernando Pessoa, as ordens do rei D.João II. Existe uma razão para isso: quando Gil Eanes voltou de uma tentativa falhada de dobrar o Cabo Bojador, o Infante mandou-o voltar para tentar novamente e o navegador venceu o temor para não desagradar ao seu bondoso patrono. Mas com D.João II o trato era diferente porque ele era o tipo de homem que não admitia que aqueles em quem confiara falhassem- os comandantes preferiam enfrentar todos os dragões do mar à fúria do seu senhor e por isso o poema encerra também uma ironia- a natureza da "vontade" que ata o homem do leme à rota é que o temor do seu rei é maior do que o terror do mar ignoto!
terça-feira, 30 de outubro de 2012
MENSAGEM de Fernando Pessoa; 1ª Parte-BRAZÃO
D.DUARTE REI DE PORTUGAL
Meu dever fez-me, como
Deus ao mundo.
A regra de ser Rei
almou meu ser,
em dia e letra
escrupuloso e fundo.
Firme em minha
tristeza, tal vivi.
Cumpri contra o
Destino o meu dever.
Inutilmente? Não,
porque o cumpri.
Análise:"A regra de ser Rei almou meu ser"- A disciplina de ser rei encheu a minha vida
(isto é, como D.Duarte viveu o fim do seu curto reinado no remorso das
consequências da falhada expedição a Tânger e da prisão do irmão Fernando não tinha prazer na vida, dedicando-se
inteiramente ao dever da governação). Esse remorso é a razão da frase do poema:
"firme em minha tristeza".
Claro em pensar, e
claro no sentir,
é claro no
querer;
indiferente ao que há
em conseguir
que seja só
obter;
duplice dono, sem me
dividir,
de dever e de
ser-
não me podia a Sorte
dar guarida
por não ser eu dos
seus.
Assim vivi, assim
morri, a vida,
calmo sob mudos
céus,
fiel à palavra dada e
à ideia tida.
Tudo o mais é com
Deus!
Análise:indiferente ao que há em conseguir que seja só obter"- não fui movido pelo
desejo de posse; não fui ambicioso de bens materiais.
"Dúplice dono, sem me
dividir, de dever e de ser"- eu e o meu dever fomos um só.
Não fui alguém. Minha
alma estava estreita
entre tam grandes
almas minhas pares,
inutilmente
eleita,
virgemmente
parada;
porque é do portuguez,
pae de amplos mares,
querer, poder só
isto:
o inteiro mar, ou a
orla vã desfeita-
o todo, ou o seu nada.
Análise:
"Minha alma estava estreita entre tão grandes almas...etc"- os meus irmãos (o
Infante D.Henrique, o Rei D.Duarte, o Infante D.Pedro, e o Infante D.Fernando)
tiveram tal grandeza que me ofuscaram completamente.
"virginalmente parada"- sem
actividade; virgem de acção (esta afirmação é inexacta em relação ao Infante
D.João que foi um homem de mérito e de préstimo para o País. Aliás, qualquer
comparação com um homem de estatura mundial como o Infante D.Henrique só pode
resultar injusta para o comparado!).
"é do português querer só isto: o inteiro mar ou a orla vã desfeita"- para um português não há meios termos: ou tudo ou nada (por isso, como não fui tudo, então eu não fui nada!).
"a orla vã desfeita"- a cercadura do mar; a espuma das ondas que se desfazem futilmente na costa.
"é do português querer só isto: o inteiro mar ou a orla vã desfeita"- para um português não há meios termos: ou tudo ou nada (por isso, como não fui tudo, então eu não fui nada!).
"a orla vã desfeita"- a cercadura do mar; a espuma das ondas que se desfazem futilmente na costa.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Reflexões do Poeta em Os Lusíadas
Luís de Camões, n´Os Lusíadas, não consegue calar a
voz crítica da sua consciência nem a sua emoção. Então, interrompendo o tom
épico, como os bons clássicos de Roma e Grécia, umas vezes, a sua palavra ganha
uma feição didáctica, moral e severamente crítica; outras vezes, expressa o
lamento e o queixume de quem sente amargamente a ingratidão, ou os desconcertos
do mundo.
Eis alguns dos temas tratados nas passagens mais subjectivas
d’Os Lusíadas, que irrompem quase sempre nos finais dos diversos cantos :
Canto I (105-106) - Os perigos que
espreitam o ser humano (o herói), tão pequeno diante das forças poderosas da
natureza (tempestades, o mar, o vento...), do poder da guerra e dos traiçoeiros
enganos dos inimigos.
Canto V (92-100) - O poeta lastima
o desdém a que os Portugueses votam as letras. Aqueles, apesar de serem de terra
de heróis, não reconhecem o valor da arte.
O Velho do Restelo n'os Lusíadas
Quando as naus de Vasco da Gama se despediam do porto de Belém, um ancião, o
Velho do Restelo, elevando a voz, manifestou sua oposição à viagem às Índias. A
sua fala pode ser interpretada como a sobrevivência da mentalidade feudal,
agrária, oposta ao expansionismo e às navegações, que configuravam os interesses
da burguesia e da monarquia. É a expressão rigorosa do conservadorismo. Certo é
que Camões, mesmo numa epopéia que se propõe a exaltar as Grandes Navegações, dá
a palavra aos que se opõem ao projeto expansionista. Portanto, O Velho do
Restelo representa a oposição passado x presente, antigo x novo. O Velho
chama de vaidoso aqueles que, por cobiça ou ânsia de glória, por sua audácia ou
coragem, se lançam às aventuras ultramarinas. Simboliza a preocupação daqueles
que antevêem um futuro sombrio para a Pátria.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
D. Manuel I (O Sonho)
O sonho prenuncia os êxitos, a fama, o poder e a glória de que se cobrirá o
Rei por ter conseguido descobrir o Oriente.
O sonho é
um símbolo do que pode o espírito humano quando procura pôr em prática as suas
aspirações. É símbolo da capacidade de conquista, de vontade de ir sempre mais
além, de desbravar o desconhecido. E símbolo da política expansionista portuguesa
na época.
D. Manuel I
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Mitificação Do Herói
Os Lusíadas celebram os
Portugueses enquanto nação, colectividade. Para isso, o poeta desenvolve uma
história de Portugal como epopeia, seleccionando os episódios e as figuras, de
modo a fazer avultar o lado heróico e exemplar da História, cantando-a. Por
outro lado, o poema tende à universalidade, louva não só os Portugueses mas o
homem em geral: a sua capacidade realizadora, descobridora. A empresa das
descobertas é a grande prova dessas capacidades: a de se impor à natureza
adversa, de desvendar o desconhecido, de ultrapassar os limites traçados pela
cultura antiga e pelo conceito tradicional do homem e do mundo, que estavam
dogmatizados e eram difíceis de superar. Os Lusíadas celebram a
capacidade de alargar e aprofundar o saber; a realização do homem no que
respeita ao amor e, por fim, talvez o mais importante, o poder de edificar a
vida face ao destino. De não ser vítima da fatalidade. De se libertar e de ser
sujeito do seu próprio destino. Por isso, um dos temas épicos consiste na
comparação sistemática com os modelos antigos, com o apogeu na divinização dos
heróis.
quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Estrutura Externa de Os Lusiadas
A
obra divide-se em dez partes, às quais se chama cantos. Cada
canto tem
um número variável de estrofes (em média de 110). O canto mais longo é o X, com
156 estrofes.
As
estrofes são oitavas, portanto constituídas por oito versos. Cada verso é
constituído por dez sílabas métricas; nas sua maioria, os versos são heróicos
(acentuados nas sextas e décimas sílabas).
O
esquema rimático é o mesmo em todas as estrofes da obra, sendo portanto, rima
cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos
(AB-AB-AB-CC).
Canto I,
est. 6-18, é o oferecimento do poema a D. Sebastião, que encara toda a
esperança do poeta, que quer ver nele um monarca poderoso, capaz de retomar
“a dilatação da fé e do império” e de ultrapassar a crise do
momento.
Termina com
uma exortação ao rei para que também se torne digno de ser cantado, prosseguindo
as lutas contra os Mouros.
Exórdio (est. 6-8) - início do discurso;
Exposição (est. 9-11) - corpo do discurso;
Confirmação (est. 12-14) - onde são apresentados os exemplos;
Peroração (est. 15-17) - espécie de recapitulação ou remate;
Epílogo (est. 18) - conclusão.
Canto I, est. 4-5, o poeta pede ajuda a entidades mitológicas, chamadas musas. Isso acontece várias vezes ao longo do poema, sempre que o autor precisa de inspiração:
Tágides ou ninfas do Tejo (Canto I, est. 4-5);
Calíope - musa da eloquência e da poesia épica (Canto II, est. 1-2);
Ninfas do Tejo e do Mondego (Canto VII, est. 78-87);
Calíope (Canto X, est. 8-9);
Calíope (Canto X, est. 145).
Os Lusíadas ( Estrutura Interna )
Canto I,
est. 1-3, em que Camões proclama ir cantar as grandes vitórias e os homens
ilustres - “as armas e os barões assinalados”; as conquistas e navegações
no Oriente (reinados de D. Manuel e de D. João III); as vitórias em África e na
Ásia desde D. João a D. Manuel, que dilataram “a fé e o império”; e, por
último, todos aqueles que pelas suas obras valorosas “se vão da lei da morte
libertando”, todos aqueles que mereceram e merecem a “imortalidade” na
memória dos homens.
A proposição
aponta também para os “ingredientes” que constituíram os quatro planos do
poema:
Plano da Viagem - celebração de uma viagem:
"...da Ocidental praia lusitana / Por mares nunca de antes navegados / Passaram além da Tapobrana...";
Plano da História - vai contar-se a história de um povo:
"...o peito ilustre lusitano..."."...as memórias gloriosas / Daqueles Reis que foram dilatando / A Fé, o império e as terras viciosas / De África e de Ásia...";
Plano dos Deuses (ou do Maravilhoso) - ao qual os Portugueses se equiparam:
"... esforçados / Mais do que prometia a força humana..."."A quem Neptuno e Marte obedeceram...";
Plano do Poeta - em que a voz do poeta se ergue, na primeira pessoa:
"...Cantando espalharei por toda a parte. / Se a tanto me ajudar o engenho e arte..."."...Que eu canto o peito ilustre lusitano...".
Humanismo
Classicismo
Em Arte, o Classicismo refere-se, geralmente à valorização da Antiguidade Clássica como padrão por excelência do sentido estético, que os classicistas pretendem imitar. As duas grandes manifestações classicistas da Idade Moderna européia são o Renascimento, Humanismo e o Neoclassicismo.
Serve também o termo clássico para designar uma obra ou um autor depositários dos elementos fundadores de determinada corrente artística. A arte renascentista, por conta de seu contexto histórico, será impulsionada por grande explosão de vida e confiança no ser humano. Por isso, as manifestações artisticas desse periodo são marcadas pela visão antropocentrica, que evidenciará a beleza do corpo humano na pintura e na escultura.
Serve também o termo clássico para designar uma obra ou um autor depositários dos elementos fundadores de determinada corrente artística. A arte renascentista, por conta de seu contexto histórico, será impulsionada por grande explosão de vida e confiança no ser humano. Por isso, as manifestações artisticas desse periodo são marcadas pela visão antropocentrica, que evidenciará a beleza do corpo humano na pintura e na escultura.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Renascimento
Renascimento, Renascença ou Renascentismo são os termos
usados para identificar o período da História da Europa aproximadamente entre
fins do século XIII e meados do século XVII.
Chamou-se "Renascimento" em virtude da
redescoberta e revalorização das referências culturais da antiguidade clássica,
que nortearam as mudanças deste período em direcção a um ideal humanista e
naturalista.
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