segunda-feira, 12 de novembro de 2012

MENSAGEM de Fernando Pessoa; Terceira Parte- O ENCOBERTO

NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer –
brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.
 Ninguém sabe que coisa quere,
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ância distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
 É a Hora!
 
Análise:
Neste poema, o último de Mensagem, Fernando Pessoa transmite uma imagem desencantada da realidade do Portugal dos seus dias... mas para concluir que essa situação é, afinal, o nevoeiro de que falam as profecias e que marcará o regresso de D.Sebastião. A conclusão de que o nevoeiro que se esperava não é, afinal, literal (físico) mas antes simbólico (social e político) permite-lhe acabar o Poema com uma "volta" final ao gritar: "É a Hora!".
"fogo-fátuo"- chama azulada, em geral breve, resultante da combustão espontânea de uma mistura de metano e ar em determinadas proporções. O metano (gás dos pântanos) é produzido naturalmente pela decomposição da matéria orgânica, vegetal ou animal. A combustão produz calor, mas como é muito breve a chama pode parecer fria.

O ENCOBERTO
 
Que symbolo fecundo
Vem na aurora anciosa?
Na Cruz Morta do Mundo
A Vida, que é a Rosa.
Que symbolo divino
Traz o dia já visto?
Na Cruz, que é o Destino,
A Rosa, que é o Christo.
Que symbolo final
Mostra o sol já disperto?
Na Cruz morta e fatal
A Rosa do Encoberto.
 
Análise: Este curioso poema é uma sucessão de referências cruzadas à mística rosicruciana. Os Rosa-Cruz foram (são?) uma sociedade secreta cujas origens provavelmente remontam ao século XVII. Os interessados poderão ler um texto sobre os Rosa-Cruz. Parece que originalmente seria um grupo secreto de homens cultos e superiormente desinteressados que sonhavam controlar os destinos da humanidade de maneira a assegurar o advento de um mundo pacífico e feliz (na prática, uma variante da noção do Quinto Império). As diversas cisões e criação de sociedades sob o mesmo nome obliteraram as pistas quanto à permanência real de uma sociedade secreta que represente a presença actual de uma herança multisecular ininterrupta.
Existem várias interpretações da simbologia da Rosa e da Cruz. Uma, que convém a este poema, é de que a Rosa é uma representação do círculo e está associada a ideais de perfeição que são metas, enquanto que a Cruz representa, por exemplo, as atribulações que há a ultrapassar ou vencer para as atingir.


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