NEVOEIRO
Nem rei nem lei, nem
paz nem guerra,
define com perfil e
ser
este fulgor baço da
terra
que é Portugal a
entristecer –
brilho sem luz e sem
arder,
como o que o
fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa
quere,
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ância distante
perto chora?)
Tudo é incerto e
derradeiro.
Tudo é disperso, nada
é inteiro.
Ó Portugal, hoje és
nevoeiro...
É a
Hora!
Análise:
Neste poema, o último de
Mensagem, Fernando Pessoa transmite uma imagem desencantada da realidade do
Portugal dos seus dias... mas para concluir que essa situação é, afinal, o
nevoeiro de que falam as profecias e que marcará o regresso de D.Sebastião. A
conclusão de que o nevoeiro que se esperava não é, afinal, literal (físico) mas
antes simbólico (social e político) permite-lhe acabar o Poema com uma "volta"
final ao gritar: "É a Hora!".
O ENCOBERTO
Que symbolo
fecundo
Vem na aurora
anciosa?
Na Cruz Morta do
Mundo
A Vida, que é a
Rosa.
Que symbolo
divino
Traz o dia já
visto?
Na Cruz, que é o
Destino,
A Rosa, que é o
Christo.
Que symbolo
final
Mostra o sol já
disperto?
Na Cruz morta e
fatal
A Rosa do Encoberto.
Análise:
Este curioso poema é uma
sucessão de referências cruzadas à mística rosicruciana. Os Rosa-Cruz foram
(são?) uma sociedade secreta cujas origens provavelmente remontam ao século
XVII. Os interessados poderão ler um texto sobre os Rosa-Cruz. Parece que
originalmente seria um grupo secreto de homens cultos e superiormente
desinteressados que sonhavam controlar os destinos da humanidade de maneira a
assegurar o advento de um mundo pacífico e feliz (na prática, uma variante da
noção do Quinto Império). As diversas cisões e criação de sociedades sob o mesmo
nome obliteraram as pistas quanto à permanência real de uma sociedade secreta
que represente a presença actual de uma herança multisecular
ininterrupta.
Existem várias interpretações da simbologia da Rosa e da Cruz. Uma, que convém a este poema, é de que a Rosa é uma representação do círculo e está associada a ideais de perfeição que são metas, enquanto que a Cruz representa, por exemplo, as atribulações que há a ultrapassar ou vencer para as atingir.
Existem várias interpretações da simbologia da Rosa e da Cruz. Uma, que convém a este poema, é de que a Rosa é uma representação do círculo e está associada a ideais de perfeição que são metas, enquanto que a Cruz representa, por exemplo, as atribulações que há a ultrapassar ou vencer para as atingir.
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