D.DUARTE REI DE PORTUGAL
Meu dever fez-me, como
Deus ao mundo.
A regra de ser Rei
almou meu ser,
em dia e letra
escrupuloso e fundo.
Firme em minha
tristeza, tal vivi.
Cumpri contra o
Destino o meu dever.
Inutilmente? Não,
porque o cumpri.
Análise:"A regra de ser Rei almou meu ser"- A disciplina de ser rei encheu a minha vida
(isto é, como D.Duarte viveu o fim do seu curto reinado no remorso das
consequências da falhada expedição a Tânger e da prisão do irmão Fernando não tinha prazer na vida, dedicando-se
inteiramente ao dever da governação). Esse remorso é a razão da frase do poema:
"firme em minha tristeza".
Claro em pensar, e
claro no sentir,
é claro no
querer;
indiferente ao que há
em conseguir
que seja só
obter;
duplice dono, sem me
dividir,
de dever e de
ser-
não me podia a Sorte
dar guarida
por não ser eu dos
seus.
Assim vivi, assim
morri, a vida,
calmo sob mudos
céus,
fiel à palavra dada e
à ideia tida.
Tudo o mais é com
Deus!
Análise:indiferente ao que há em conseguir que seja só obter"- não fui movido pelo
desejo de posse; não fui ambicioso de bens materiais.
"Dúplice dono, sem me
dividir, de dever e de ser"- eu e o meu dever fomos um só.
Não fui alguém. Minha
alma estava estreita
entre tam grandes
almas minhas pares,
inutilmente
eleita,
virgemmente
parada;
porque é do portuguez,
pae de amplos mares,
querer, poder só
isto:
o inteiro mar, ou a
orla vã desfeita-
o todo, ou o seu nada.
Análise:
"Minha alma estava estreita entre tão grandes almas...etc"- os meus irmãos (o
Infante D.Henrique, o Rei D.Duarte, o Infante D.Pedro, e o Infante D.Fernando)
tiveram tal grandeza que me ofuscaram completamente.
"virginalmente parada"- sem
actividade; virgem de acção (esta afirmação é inexacta em relação ao Infante
D.João que foi um homem de mérito e de préstimo para o País. Aliás, qualquer
comparação com um homem de estatura mundial como o Infante D.Henrique só pode
resultar injusta para o comparado!).
"é do português querer só isto: o inteiro mar ou a orla vã desfeita"- para um português não há meios termos: ou tudo ou nada (por isso, como não fui tudo, então eu não fui nada!).
"a orla vã desfeita"- a cercadura do mar; a espuma das ondas que se desfazem futilmente na costa.
"é do português querer só isto: o inteiro mar ou a orla vã desfeita"- para um português não há meios termos: ou tudo ou nada (por isso, como não fui tudo, então eu não fui nada!).
"a orla vã desfeita"- a cercadura do mar; a espuma das ondas que se desfazem futilmente na costa.