Da janela mais alta de minha casa, de Alberto Caeiro, heterônimo de
Fernando Pessoa, pertence à obra O guardador de Rebanhos.
Com
um sujeito poético que está conformado, aceitando que os seus versos estejam
naturalmente destinados à humanidade, despede-se deles, resignado e consciente
de que eles são parte de um todo e não de um bem pessoal:
Submeto-me
e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar
triste.
É um momento solene, que encerra em si mesmo um misto de
tristeza e alegria. Tristeza por terminar algo, alegria por começar algo
melhor.
Os versos do sujeito poético foram escritos para que toda a gente
os possa ler (Escrevi-os e devo mostrá-los a todos), do mesmo modo que
a Natureza está exposta a todos os olhares:
...a flor não pode
esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que
dá fruto.
Também os versos são qualquer coisa natural, cujo destino
é partir "para a humanidade", explicitando-se a ideia de que o determinismo das
leis da Natureza é extensivo aos versos do "Poeta da Natureza".
Nas duas
últimas estrofes da composição poética, o sujeito poético incita os seus versos
a partirem para o seu destino e espelha a ideia de que a Natureza é cíclica e
renovável. Assim, também o eu passa, mas ficará como o Universo, perpetuando a
sua passagem pela vida através dos seus versos. ilusão metafísica.
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