quinta-feira, 24 de maio de 2012

Alvaro de Campos (3 fases)

1ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – DECADENTISMO (“Opiário”, somente)- exprime o tédio, o enfado, o cansaço, a naúsea, o abatimento e a necessidade de novas sensações

- traduz a falta de um sentido para a vida e a necessidade de fuga à monotonia

- marcado pelo romantismo e simbolismo (rebuscamento, preciosismo, símbolos e imagens)

- abulia, tédio de viver

- procura de sensações novas

- busca de evasão


2ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS - FUTURISTA/SENSACIONISTANesta fase, Álvaro de Campos celebra o triunfo da máquina, da energia mecânica e da civilização moderna. Sente-se nos poemas uma atracção quase erótica pelas máquinas, símbolo da vida moderna. Campos apresenta a beleza dos “maquinismos em fúria” e da força da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida. Exalta o progresso técnico, essa “nova revelação metálica e dinâmica de Deus”. A “Ode Triunfal” ou a “Ode Marítima” são bem o exemplo desta intensidade e totalização das sensações. A par da paixão pela máquina, há a náusea, a neurastenia provocada pela poluição física e moral da vida moderna.

· Futurismo:

- elogio da civilização industrial e da técnica (“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno!”, Ode Triunfal)

- ruptura com o subjectivismo da lírica tradicional

- atitude escandalosa: transgressão da moral estabelecida


· Sensacionismo:

- vivência em excesso das sensações (“Sentir tudo de todas as maneiras” – afastamento de Caeiro)

- sadismo e masoquismo (“Rasgar-me todo, abrir-me completamente,/ tornar-me passento/ A todos os perfumes de óleos e calores e carvões...”, Ode Triunfal)

- cantor lúcido do mundo moderno

3ª FASE DE ÁLVARO DE CAMPOS – PESSIMISMOPerante a incapacidade das realizações, traz de volta o abatimento, que provoca “Um supremíssimo cansaço, /íssimo, íssimo, íssimo, /Cansaço…”. Nesta fase, Campos sente-se vazio, um marginal, um incompreendido. Sofre fechado em si mesmo, angustiado e cansado. (“Esta velha angústia”; “Apontamento”; “Lisbon revisited”).

O drama de Álvaro Campos concretiza-se num apelo dilacerante entre o amor do mundo e da humanidade; é uma espécie de frustração total feita de incapacidade de unificar em si pensamento e sentimento, mundo exterior e mundo interior. Revela, como Pessoa, a mesma inadaptação à existência e a mesma demissão da personalidade íntegra., o cepticismo, a dor de pensar e a nostalgia da infância.


terça-feira, 22 de maio de 2012

A Flor que és

A flor que és, não a que dás, eu quero.
Porque me negas o que te não peço.
Tempo há para negares
Depois de teres dado.
Flor, sê-me flor! Se te colher avaro
A mão da infausta esfinge, tu perene
Sombra errarás absurda,
Buscando o que não deste.

Poemas de Ricardo Reis ("Segue o Teu Destino")

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nos queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-proprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

Excerto da Carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro

Em primeiro lugar, quero dizer-lhe que nunca eu veria «outras razões» em qualquer cousa que escrevesse, discordando, a meu respeito. Sou um dos poucos poetas portugueses que não decretou a sua própria infalibilidade, nem toma qualquer crítica., que se lhe faça, como um ato de lesa-divindade. Além disso, quaisquer que sejam os meus defeitos mentais, é nula em mim a tendência para a mania da perseguição. À parte isso, conheço já suficientemente a sua independência mental, que, se me é permitido dizê-lo, muito aprovo e louvo. Nunca me propus ser Mestre ou Chefe-Mestre, porque não sei ensinar, nem sei se teria que ensinar; Chefe, porque nem sei estrelar ovos. Não se preocupe, pois, em qualquer ocasião, com o que tenha que dizer a meu respeito. Não procuro caves nos andares nobres.
Concordo absolutamente consigo em que não foi feliz a estreia, que de mim mesmo fiz com um livro da natureza de «Mensagem». Sou, de fato, um nacionalista místico, um sebastianista racional. Mas sou, à parte isso, e até em contradição com isso, muitas outras cousas. E essas cousas pela mesma natureza do livro, a «Mensagem» não as inclui.

Comecei por esse livro as minhas publicações pela simples razão de que foi o primeiro livro que consegui, não sei porquê, ter organizado e pronto. Como estava pronto incitaram-me a que o publicasse: acedi. Nem o fiz, devo dizer, com os olhos postos no prémio possível do Secretariado, embora nisso não houvesse pecado intelectual de maior. O meu livro estava pronto em Setembro, e eu julgava, até, que não poderia concorrer ao Premio, pois ignorava que o prazo para entrega dos livros, que primitivamente fora até fim de Julho, fora alargado até ao fim de Outubro. Como, porém, em fim de Outubro já havia exemplares prontos da «Mensagem», fiz entrega dos que o Secretariado exigia. O livro estava exatamente nas condições (nacionalismo) de concorrer. Concorri.
Quando às vezes pensava na ordem de uma futura publicação de obras minhas, nunca um livro do género de «Mensagem» figurava em número um. Hesitava entre se deveria começar por um livro de versos grande - um livro de umas 350 páginas -, englobando as várias sub-personalidades de Fernando Pessoa ele mesmo, ou se deveria abrir com uma novela policiária, que ainda não consegui completar.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Alberto Caeiro (Quando vier a Primavera)

Análise ao Poema "Da mais alta janela da minha casa"

Da janela mais alta de minha casa, de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, pertence à obra O guardador de Rebanhos.

Com um sujeito poético que está conformado, aceitando que os seus versos estejam naturalmente destinados à humanidade, despede-se deles, resignado e consciente de que eles são parte de um todo e não de um bem pessoal:
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.


É um momento solene, que encerra em si mesmo um misto de tristeza e alegria. Tristeza por terminar algo, alegria por começar algo melhor.

Os versos do sujeito poético foram escritos para que toda a gente os possa ler (Escrevi-os e devo mostrá-los a todos), do mesmo modo que a Natureza está exposta a todos os olhares:
...a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.


Também os versos são qualquer coisa natural, cujo destino é partir "para a humanidade", explicitando-se a ideia de que o determinismo das leis da Natureza é extensivo aos versos do "Poeta da Natureza".

Nas duas últimas estrofes da composição poética, o sujeito poético incita os seus versos a partirem para o seu destino e espelha a ideia de que a Natureza é cíclica e renovável. Assim, também o eu passa, mas ficará como o Universo, perpetuando a sua passagem pela vida através dos seus versos. ilusão metafísica.

Alberto Caeiro ( Da mais alta janela da minha casa)

Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a Humanidade.

E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.


Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.


Quem sabe quem os terá?
Quem sabe a que mãos irão?


Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.


Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.


Passo e fico, como o Universo.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Fernando Pessoa (Hetéronimo)

Os heterónimos são concebidos como individualidades distintas da do autor, este criou-lhes uma biografia e até um horóscopo próprios. Encontram-se ligados a alguns dos problemas centrais da sua obra: a unidade ou a pluralidade do eu, a sinceridade, a noção de realidade e a estranheza da existência. Traduzem a consciência da fragmentação do eu, reduzindo o eu “real” de Pessoa a um papel que não é maior que o de qualquer um dos seus heterónimos na existência literária do poeta. São a mentalização de certas emoções e perspectivas, a sua representação irónica. De entre os vários heterónimos de Pessoa destacam-se: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.

Fernando Pessoa (Ortonimo)

Figura cimeira da literatura portuguesa e da poesia europeia do século XX. O seu virtuosismo foi, sobretudo, uma forma de abalar a sociedade e a literatura burguesas gasta (nomeadamente através dos seus «ismos»: paulismo, interseccionismo, sensacionismo), ele fundamentou a resposta revolucionária à concepção romântica, sentimentalmente metafísica, da literatura. O apagamento da sua vida pessoal não se opôs ao exercício activo da crítica e da polémica em vida, e sobretudo a uma grande influência na literatura portuguesa do século XX.

Fernando Pessoa ortónimo, seguia, formalmente, os modelos da poesia tradicional portuguesa, em textos de grande suavidade rítmica e musical. Poeta introvertido e meditativo, anti-sentimental, reflectia inquietações e estranhezas que questionavam os limites da realidade da sua existência e do mundo. O poema “Mensagem”, exaltação sebastiânica que se cruza com um certo desalento, uma expectativa ansiosa de ressurgimento nacional, revela uma faceta misteriosa e espiritual do poeta, manifestada também nas suas incursões pelas ciências ocultas e pelo rosa-crucianismo.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Biografia de Fernando Pessoa

Fernando PessoaPoeta português, Fernando Antonio Nogueira Pessoa, nasceu em 1888, em Lisboa, e morreu nessa mesma cidade em 1935. Filho da pequena burguesia lisboeta, cresceu em Durban (África do Sul) freqüentando mais tarde a Universidade de Capetown. Foi o inglês sua segunda língua materna e, como anglicizado, teve depois dificuldades em reencontrar-se na vida portuguesa.



Santa Rita Pintor

Pintor português, de nome verdadeiro Guilherme Augusto Cau da Costa, nascido em 1890 e falecido em 1918, considerado o iniciador do Futurismo no nosso país.


Formado pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, fixou residência em Paris em 1910, onde contactou com os círculos artísticos vanguardistas, passando a conviver com artistas como Picasso, Marinetti e Max Jacob.


Amadeo de Souza-Cardoso

Amadeo de Souza-Cardoso (Manhufe, freguesia de Mancelos, Amarante, 14 de Novembro de 1887 – Espinho, 25 de Outubro de 1918) foi um pintor modernista português.

Filho de Emília Cândida Ferreira Cardoso e José Emygdio de Sousa Cardoso, reconhecido produtor vinícola, Amadeo pertence à primeira geração de pintores modernistas portugueses.



Almada Negreiros

José Sobral de Almada Negreiros GOSE (Trindade, 7 de Abril de 1893 — Lisboa, 15 de Junho de 1970) foi um artista multidisciplinar, pintor, escritor, poeta, ensaísta, dramaturgo e romancista português ligado ao grupo modernista. Também foi um dos principais colaboradores da Revista Orpheu.



quinta-feira, 3 de maio de 2012

Georges Braques

Georges Braque (Argenteuil, 13 de maio de 1882 — Paris, 31 de agosto de 1963) foi um pintor e escultor francês que fundou o Cubismo juntamente com Pablo Picasso.
Braque iniciou a sua ligação às cores na empresa de pintura decorativa de seu pai. A maior parte da sua adolescência foi passada em Le Havre, mas no ano de 1899, mudou-se para Paris onde, em 1906, no Salão dos Independentes, expôs as suas primeiras obras no estilo de formas simples e de cores puras (fauvismo).
No Outono de 1907, conheceu Picasso com quem se deu quase diariamente até que em 1914, devido à Grande Guerra se separaram.
Braque foi ferido na cabeça em 1915, tendo sido agraciado com a Cruz de Guerra e da Legião de Honra. Durante dois anos, devido ao ferimento esteve afastado da pintura, tendo retornado em 1917 focando-se em naturezas-mortas e pinturas figurativas, sempre dentro de uma formulação cubista



Pablo Picasso

Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Ruiz y Picasso, ou simplesmente Pablo Picasso (Málaga, Espanha, 25 de outubro de 1881 — Mougins, França, 8 de abril de 1973), foi um pintor, escultor e desenhista espanhol, tendo também desenvolvido a poesia.
Foi reconhecidamente um dos mestres da arte do século XX. É considerado um dos artistas mais famosos e versáteis de todo o mundo, tendo criado milhares de trabalhos, não somente pinturas, mas também esculturas e cerâmica, usando, enfim, todos os tipos de materiais. Ele também é conhecido como sendo o co-fundador do Cubismo, junto com Georges Braque.




Modernismo séc XX

Começando na década de 1890 e com força bastante grande daí em diante, uma linha de pensamento passou a defender que era necessário deixar completamente de lado as normas prévias, e ao invés de meramente revisitar o conhecimento passado à luz das técnicas atuais, seria preciso implantar mudanças mais drásticas. Cada vez mais presente integração entre a combustão interna e a industrialização; e o advento das ciências sociais na política pública. Nos primeiros quinze anos do século XX, uma série de escritores, pensadores e artistas fizeram a ruptura com os meios tradicionais de se organizar a literatura, a pintura, a música - novamente, em paralelo às mudanças nos métodos organizacionais de outros campos. O argumento era o de que se a natureza da realidade mesma estava em questão, e as suas restrições, as atividades humanas até então comuns estavam mudando, então a arte também deveria mudar.